Maurício Martins

Tem favela aqui?

Por Maurício Martins
Coordenador do Programa Bairro Empreendedor e Assessor Técnico do Conssedi
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A história da favela é interessante. O termo refere-se a uma planta de mesmo nome que causa irritação ao entrar em contato com a pele. O vegetal era comum em diversos morros no Rio de Janeiro, e com a falta de estrutura habitacional da cidade, virou refúgio para pessoas de baixa renda. A favela virou sinônimo para empilhamento de casas, e desde então, não saiu mais do vocabulário brasileiro.

Mas por que estamos fazendo este resgate etimológico? Pois a favela vem gerando cada vez mais interesse dos setores produtivos do País. O que antes era tratado como carência, hoje é potência. E não quero dar a falsa impressão que a favela está livre das mazelas sociais históricas, como pobreza, tráfico e criminalidade, mas apesar disso, vem se destacando pelo seu potencial econômico.

Segundo dados do instituto Data Favela, se os moradores destas comunidades representassem um estado brasileiro, seriam a 6ª maior economia do País, com R$ 202 bilhões gerados no último ano. Ficariam atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, respectivamente. E grande parte dos empreendedores de favela não são formalizados, ou seja, não recolhem impostos, não contribuem para a previdência, e deixam de ter direito a benefícios sociais, como auxílio doença e aposentadoria.

No último fim de semana estive em um evento chamado ExpoFavela, idealizado pela Central Única das Favelas (Cufa) em conjunto com diferentes entidades representativas da sociedade. E lá tive contato com diversos empreendedores de favela. Confesso que fiquei surpreso com o que é produzido lá. Minha ideia pré-concebida de favela me levava a crer que encontraria vendedores de quentinha, artesãos e cabeleireiros. E de fato, encontrei. Mas encontrei também robótica, aplicativos para smartphones, tecnologia têxtil, entre outros. Fora isso, ainda pude provar a ambrosia de feijão, que, surpreendentemente, é muito boa.

Mas voltando à pergunta inicial… Tem favela aqui? Em Pelotas e em todo Rio Grande do Sul, não estamos acostumados com o termo favela. Chamamos de periferia, bairro, comunidade. Mas isso não quer dizer que não temos o conceito de favela em nossa cidade. E pensando nisso a prefeitura criou o programa Bairro Empreendedor, política pública que vem trabalhando por uma capacitação maior dos nossos empreendedores de bairro. Além da capacitação, trabalhamos com mapeamento, regularização, organização e microcrédito com juros subsidiados pela prefeitura.

Iniciamos o trabalho pela Colônia Z-3, onde existe uma veia empreendedora muito forte. Principalmente na indústria do pescado e tudo que a permeia. Lá, encontramos o projeto das redeiras, que reaproveita materiais de pesca para produzir lindos materiais. Bolsas feitas de redes e vestidos feitos de escama de peixe fazem sucesso até fora do país. Investindo na capacitação, conseguimos viabilizar para que alunos do ensino público da colônia realizassem um curso de programação. Em abril, formaremos uma turma com quase 20 jovens que já estão sendo disputados no mercado de trabalho.

Hoje estamos atuando no Navegantes com diversas ações. O próximo bairro será a Guabiroba, onde já contratamos uma pesquisa com o objetivo de termos dados para desenvolver um trabalho mais assertivo, traçando um perfil socioeconômico dos moradores da região.

A favela venceu? Acredito que sim. E vencerá todos os dias em que, apesar das dificuldades, a população consiga protagonismo em suas diversas áreas. Protagonismo empreendedor. Protagonismo negro. Protagonismo da mulher. Como diz o rapper pelotense Mano Rick, "todo preto como eu também quer seu lugar. Ser levado a sério sem desdenho. Minha palavra é tudo que tenho. Escolha acreditar ou não, mas o compromisso comigo eu mantenho".

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